(23/01/2022) – Um novo sistema de modelagem 3D implementado no Polo de Design do Renault Group, na França, promete revolucionar o setor de design automotivo.
Trata-se de um software para produzir sketches em 3D que permite a criação de desenhos apenas com o uso de óculos de realidade virtual, os chamados VR headsets (Virtual Reality), dispositivo inventado há 50 anos e que há mais ou menos uma década é empregado na área de entretenimento.
O revolucionário na nova tecnologia é que ela permite desenhar sem lápis, prancheta, tablet, mouse ou até mesmo sem uma sala para trabalhar.
Na modalidade, os sketches em 3D são criados por meio de uma tecnologia intuitiva, que fornece ao designer um modo de “desenhar no vazio”, ou, dito de outro modo, em torno dele mesmo.
A Renault afirma, modestamente, que não inventou nada, já que Pablo Picasso fazia algo parecido ainda em 1949. De fato, o célebre artista espanhol utilizou um isqueiro como se fosse um lápis, para fazer “coreografias luminosas”, cujos desenhos efêmeros foram imortalizados pelo fotógrafo Gjon Mili.
Chamada de light painting, ou light drawing, esta forma de arte permite expressar uma ideia por meio de uma representação no espaço. Os sketches em 3D seguem mais ou menos a mesma ideia, mas sem isqueiro ou câmera fotográfica.
Na prática, a coisa funciona assim: depois de colocar e ligar os óculos de realidade virtual, o designer mergulha em um estúdio de design virtual em 360°.
Utilizando então dois comandos (um em cada mão), o designer então escolhe as cores em uma paleta gráfica, cria traços e formas, preenche superfícies etc., atuando em um espaço onde não existem limitações ou restrições.
A metodologia ainda permite fazer croquis em três dimensões, criar perspectivas e modelar formas – mesmo em escala 1:1 – ou preencher volumes.
Os sketches em 3D também abrem espaço para experimentações, pois o usuário pode concretizar facilmente qualquer ideia. E nada “desaparece”, pois todos os movimentos são modelados em tempo real pelo software.
A velocidade fornecida ao trabalho também é impressionante. Enquanto normalmente são necessárias pelo menos quatro semanas para se enviar uma digitalização ou dados a uma máquina, aqui tudo acontece em tempo real.
Fadiga – As únicas desvantagens são a fadiga ocular, dores de cabeça, nas costas ou nas juntas, que alguns designers sentem após um uso prolongado. Ou seja, para desenhar em 360° é preciso estar em boa forma física e fazer pausas a cada hora.
Mas os engenheiros já estão idealizando soluções para tornar a experiência mais agradável e menos extenuante, como a de reduzir o peso dos óculos 3D.
Uma das alternativas é utilizar óculos de realidade mista, que permitem tanto desenhar por meio de realidade virtual como ver em torno de si mesmo e interagir com seus colegas.
O sketch em 3D tem ainda uma vantagem adicional: é possível trabalhar de forma direta e colaborativa com os colegas em um mesmo projeto, seja qual for a distância a separá-los, já que com a internet não existem mais limites geográficos.
Os designers têm a sensação de estar juntos mesmo se estiverem a milhares de quilômetros de distância. Podem conversar por meio da interface criada pela ferramenta de sketches em 3D, que associa fones de ouvido e um microfone aos óculos de realidade virtual.
Assim, eles podem se comunicar, compartilhar suas atividades e trabalhar em projetos comuns até mesmo sem sair de casa. O resultado são possibilidades de trabalho infinitas sem grandes riscos de mal-entendidos, pois a realidade virtual dá condições de eles se expressarem de forma mais precisa.
O fluxo de trabalho também é melhorado. As modelagens feitas por meio de sketches em 3D são exportadas sob a forma de arquivos, que podem ser utilizados por todos aqueles que estão trabalhando no projeto de desenvolvimento e produção de um veículo.
Por exemplo, o designer pode enviar uma cópia digital do seu trabalho a um modelador (o profissional que faz os protótipos físicos) ou engenheiro que avaliará a viabilidade do projeto.
Mas a Renault esclarece que este “design aumentado” não significará o abandono de protótipos físicos para os projetos em andamento, pois é inerente ao ser humano querer tocar e sentir um produto real. Fazer sketches em 3D é uma utilíssima ferramenta, mas os métodos tradicionais ainda continuam válidos.
Diga-se que os designers da Renault e o pessoal do entretenimento não são os únicos que estão trabalhando com esta tecnologia. Além de várias escolas de design, o sistema vem sendo utilizado por projetistas de motocicletas, tênis, capacetes para ciclistas e até mochilas. E há um vasto campo aberto em setores como moda, decoração de interiores, arquitetura, medicina e videogames.